UMA DANÇA AO LUAR
Era uma noite, como algumas outras, para a galinhola.
Havia terminado há já uns dias o seu voo migratório e, à semelhança de outros anos procurou refúgio nos pinhais da beira mar. As dunas e o areal não lhe oferecem nem comida nem abrigo, mas para obter esses bens essenciais é inevitável atravessar algumas clareiras, que separam uns dos outros.
Durante o dia tem repousado sem percalços de monta. Um ou outro ruído, diferente da brisa ou do vento, algum caminhante solitário, nada mais.
Veio o crepúsculo e com ele a noite.
Noite bela, sem nuvens, luar que parece dia.
Decide, então, elevar-se e rumar aos prados que distam alguns minutos de voo.
Entra numa dessas clareiras e, subitamente, sente um som abafado junto de si.
Olha nessa direcção e esquiva-se com um golpe de asa, ao vulto que se aproxima.
Este por sua vez inicia uma acrobacia aérea tentando novo rumo de aproximação.
Notou a galinhola essa faculdade, respondendo com mais velocidade, dado que, dali,coisa boa não vinha com certeza.
A névoa, que entretanto se formara era agora sua aliada.
Decidido a fazer da galinhola uma presa requintada, digna dele, o rei da noite, o bufo, uma vez perdido o factor surpresa, acaba por se conformar com a recusa para aquela " valsa " da meia noite, por parte da rainha das florestas e toma novo rumo. Outras oportunidades e outros pares haverá para uma dança ao luar não tão esquivas como a humilde galinhola. *
Galinhola - Scolopax rusticola rusticola -
Aprecia os lodaçais à beira-mar, é uma ave solitária. Com seu bico reto e comprido, revira o lodo à procura dos pequenos invertebrados dos quais se alimenta (moluscos e vermes).
Bufo-real (Bubo bubo)
Habita em desfiladeiros,
montanhas e vales profundos de rios, como o Douro e o Sabor. É uma
espécie muito rara na Europa; em Portugal apenas devem existir algumas
centenas de casais.
* Texto : José Pinto Lopes
2 comentários:
Obrigado pela partilha! Um abraço.
É um grato prazer contar com a sua visita,sempre. Forte abraço.
Enviar um comentário